Era uma vez o que não era ...Era uma vez às vezes...Era outra vez o que não se via...Era de uma vez ...Era sem vez...Era e não era...
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
Tenho procurado as linhas do Tempo
para delinear os contornos da tarde
o balanço dos barcos
a quina das incertezas
a dobradura dos livros
os acentos das palavras.
Preciso de todas das cores que pintam o silêncio,
os sábados e os cheiros da terra
(quando chove, quando seca).
O presente é generoso.
Preciso do dedal da minha avó
guardado numa lata preciosa
(lá no fundo da memória)
para bordar os desenhos
da fumaça do cachimbo da bisavó
onde vejo as lágrimas da minha mãe.
E uma agulha
que ilumine, afague,
transpasse a existência
e alinhe sentidos desenganados.
Que seja ponte, flecha e canção.
E no final ,
[se há final...]
uma enorme rede caleidoscópica
e delirante
que atiro de uma canoa vacilante sobre o mar
boca azul do destino
azulação do desatino
mareação de pensamento
no naufrágio da eternidade.
.
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Roubaram minhas palavras
extraíram como dentes
apanharam como migalhas
minhas palavras mais dementes,
mais bem guardadas.
Levaram até o que esperei para ser dito
minhas palavras-retalhos
sem cor e sem forma
minhas palavras-quase
minhas palavras-quando.
Agora desdigo o quanto antes
e habito a língua do Tempo.
.
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
(Aquilo que) Silencio
Para Matheus e Inácio.
Como dizer em um minuto
aquilo que levaria um ano?
Pré-palavra
Pós-tormento
o silêncio de uma vida inteira.
Guardo palavras amarrotadas sob a língua,
nas retinas, dentre os ossos,
à espreita do segundo-eternidade
(aquele que não amanhece).
Como dizer em um minuto
aquilo que levaria um ano?
Pré-palavra
Pós-tormento
o silêncio de uma vida inteira.
Guardo palavras amarrotadas sob a língua,
nas retinas, dentre os ossos,
à espreita do segundo-eternidade
(aquele que não amanhece).
domingo, 6 de novembro de 2011
Do desejo e outros diabos
Passei o dia recolhendo os estilhaços dos desejos
espalhados pela casa.
Na sala, cozinha,
banheiro. Tinha um desejo inesperado chupando minha escova de dente. Outro a se
roçar ao pé da mesa. Algum gemendo em algum canto ou perdido dentre minhas
calcinhas. Num exercício de paciência recolhi todos eles, carinhosamente. De
forma que, alguns eram fáceis de identificar como meus: roça-roça, assim-assim,
shhh-shhh. Outros seus: lambe-lambe, quero-quero, tic-tic-tum. Mas tinham
alguns tão dúbios, uns beijos e abraços, e salivas, e cheiros, e sussurros, uns
desejos-palavras, desejos-deleites, desejos-futuros, umas agitações, que aí eu
já não sabia. Nossos desejos desencontrados pela casa também já não sabiam o
que fazer.
Confesso que pensei um jogar tudo fora, pôr num saco
plástico preto numa alusão ao luto. Mas depois lembrei que quero uma vida
sustentável.
Alegria-sustentável, encanto-sustentável, humor-sustentável e
desejo-sustentável.
O problema é que a técnica da sustentabilidade é
dificílima devido à sua altíssima tecnologia (você, rapaz tão bem informado, já
deve ter ouvido falar trata-se da invencionática
ad infinitum). Felizmente fiz um curso EAD não-reconhecido pelo MEC porque
a técnica tem como princípio fundamental a falta de rigor e a fragilidade das
coisas.
O desejo também não pode ser submetido ao rigor
científico (não posso abri-lo com um bisturi). Ele tem fama de alazão por algumas
bandas, mas na verdade é criança, faz birra e beicinho e chora muito quando a
gente lhe nega qualquer coisa.
De modo a pôr um fim nesse drama que não combinava com
o azul da tarde fiquei montando estratégias: quem sabe colando os
meus com os seus, ou quem sabe adestrá-los (os meus ou os seus?) e num surto
cristão, quem sabe até castigá-los para que aprendam a se comportar?
Depois de ter bebido 5 litros de café e completamente paranóica em encontrar a solução, percebi o enorme silêncio. Não se ouvia mais gemido, zumbido, risada, palavrão. E não fiz mais nada, deixei os desejos adormecidos no espaço de nós dois.
sábado, 22 de outubro de 2011
domingo, 16 de outubro de 2011
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
Resposta à Fabrício Corsaletti
Na carteira de identidade aos poucos some o meu nome
e dentre dedos de mãos que se cumprimentam se vai a tinta do meu nome
suspeitei e por isso aos 5 anos pedi à minha mãe que mudasse meu nome
numa tentativa inútil de que o mundo guardasse o segredo do meu nome.
Acordo de noite porque ouço pessoas gritando meu nome
as notícias atribuem todas as catástrofes à indiferença do meu nome
e minha cabeça dói porque ressoa o eco do meu nome
e minha boca seca porque já não sinto o gosto do meu nome.
Na TV um programa decadente leva meu nome
estão prestes a beatificar uma mulher que realizou 3 milagres e carrega meu nome
no Vale do Jequitinhonha uma lavadeira, enquanto canta, lava meu nome.
Jamais adentrarei naquela lua ladrilhada com meu nome.
Eu não quero senha, boteco, feriado, tinta de parede, teleférico,
aeroporto, banca de revista, bronze lavrado com meu nome.
Quero apenas trilhar distraída o anonimato do meu próprio nome.
domingo, 21 de agosto de 2011
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
sábado, 23 de julho de 2011
sábado, 16 de julho de 2011
Itamar da Silva Beleléu
A dor dança no pau de fita
carmim de tão inflamada
elegante de tão aclamada
nem Dora, nem Dolores
minhas dores ultra-desamores
chucáio de cascavé.
Reinventar a renda cearense
o beat batuque da polícia da Penha
Tenho dito, nego Dito
Por quoi je ne pas pense a çá avant?
Parangolé de esquina
uma média ao meio dia.
Para então espalavrear canções
decompor lágrimas em sal
acalentar as orquídeas no quintal
e ser o marginal maldito
poeta-não, poeta-talvez
anti-compositor sem vez.
Tenho dito, nego Dito.
sábado, 2 de julho de 2011
Deleite
Seu corpo moço
meio lenda causo inteiro
olhos de canção
minha boca é sua sem te tocar
Vermelho
Meu pé se arrasta
flamengo embaraçado
em rendas de desejo
meios seios te calam
e tudo se derrama em penumbra
Retrato emoldurado em segredo
guardado sob minhas saias
e de pronto revelado
na surdina inquieta das minhas palpitações
rasgando a noite silenciosa
em desvarios multicores.
quinta-feira, 16 de junho de 2011
Mon Cher - 1845
Escreva na demora das horas
nas inclinações do dia
nas derivações da tarde.
Escreva sem linha reta nem honra
segurando seu porta-estandarte
resvalando agonia torta.
Escreva com dignidade
sobre palavras desvalidas
meretrizes da montanha
(putas tristes em carmim).
Escreva delicadezas insignificantes
o piscar de olhos da borboleta
a insensatez do vento
o tédio das pedras.
Escreva sem perceber
que a vida dura escorre pelas coxas
e versa pelas pernas.
Escreva sem caráter
para que uma dor qualquer
venha lhe dar credibilidade, mon cher.
quinta-feira, 9 de junho de 2011
Passa-Temp(ão)
Foi Inácio quem disse:
o Tempo é um monte de tempinho e de tempão.
Os homens o carregam no pulso,
e as mulheres na menstruação.
O Tempo dorme no relento
Senhor do sim e do não.
Déjà vu do que viria
assovio de trovão.
O furo no tempo soprou
aquele samba-canção
Um avião para Itabuna
chamado consolação.
A boca do Tempo tem fome
e devora até frustração.
A angústia do Tempo não cabe
em poesia, prosa ou ficção.
O Tempo fundiu-se
no oco da cabaça.
O Tempo findou-se
no infinito da hora parada.
terça-feira, 24 de maio de 2011
quarta-feira, 18 de maio de 2011
terça-feira, 17 de maio de 2011
terça-feira, 10 de maio de 2011
Kiô
sábado, 7 de maio de 2011
. . .
O homem derramado em azul
e entortado de existência
aprofunda-se nas partes distraídas
à procura da poesia molhada
nas páginas vazias do caderno dela.
terça-feira, 26 de abril de 2011
Cabaça
No começo tudo era semente
depois tronco, galhos e folhas
firmou-se árvore imponente
kosi ewé, kosi orisá
terra brasilis, raízes africanas
e a cabaça engoliu o som do universo.
Esse segredo é tão antigo
que dentro dela adormece a poeira do mundo.
terça-feira, 19 de abril de 2011
...
Saudade é o oco da alma
O tapa é o oco da palma
Silêncio é o oco da mala
O tédio é o oco das horas
A boca é o oco do beijo
O céu é o oco do cais
Stress é o oco da pressa
Relógio é o oco do tempo
Melodia é o oco da viola
Distante é o oco do mundo.
.
segunda-feira, 18 de abril de 2011
terça-feira, 5 de abril de 2011
quarta-feira, 23 de março de 2011
segunda-feira, 21 de março de 2011
domingo, 20 de março de 2011
sexta-feira, 4 de março de 2011
Carta de amor à moda da casa
Para o vaga-lume do meu quintal
Meu bem, meu zen,
não há mal a se temer.
O risco, arisco, contempla a todos.
O antídoto para os dias
cozinhamos nas brechas do cotidiano.
Há tanto azul na janela
e você é o Eros da manhã.
Tantas são as palavras que não precisam ser ditas.
Minha boca nas cordas da viola,
seus dedos alisando as canções.
E tudo é textura,
tudo é pretexto.
Gosto de abocanhar seu riso ainda fresco.
Madrugar no movimento dos barcos.
Suspeitar encantamentos na superfície negra do mar.
Só o delírio existe, o resto é ficção.
Meu bem, meu zen,
não há mal a se temer.
O risco, arisco, contempla a todos.
O antídoto para os dias
cozinhamos nas brechas do cotidiano.
Há tanto azul na janela
e você é o Eros da manhã.
Tantas são as palavras que não precisam ser ditas.
Minha boca nas cordas da viola,
seus dedos alisando as canções.
E tudo é textura,
tudo é pretexto.
Gosto de abocanhar seu riso ainda fresco.
Madrugar no movimento dos barcos.
Suspeitar encantamentos na superfície negra do mar.
Só o delírio existe, o resto é ficção.
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

saia do mar venha ver Idalina...
Catarina no marazul de Janeiro
atordoava qualquer sujeito.
A roda de capoeira na beira da praia
o berimbau reverberava nas ondas
e espumava na areia.
Catarina poeminente
num vestido de pedrinhas de sal
lia as conchas na palma da mão
e falava na língua do vento.
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
domingo, 6 de fevereiro de 2011
De dois em dois
A multidão é a lei do corpo.
Películas sobrepostas do tempo
atravessam a retina,
sigo a saliva no seu copo
enquanto a sonoridade embriagada
desfila no asfalto.
Eu quero uma resposta funda.
Películas sobrepostas do tempo
atravessam a retina,
sigo a saliva no seu copo
enquanto a sonoridade embriagada
desfila no asfalto.
Eu quero uma resposta funda.
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