sábado, 26 de maio de 2007

Sonolência


Seu corpo é todo noite

mas você carrega o amanhecer nos olhos

que apontam para o que eu não vejo.

È todo labirinto,

mùsicas desconhecidas,

chuva contra os vidros da janela.

Abre as portas, portões e gradis de todos os mundos,

existentes e não-existentes,

carregando as chaves tortas das falhas dos enigmas.


Não saberia descrever sua composição...

catavento, lembranças, ventos do norte,

uma canoa subindo o rio, enigmas numéricos.

Fração de beleza. Polinômio de tristeza.

As àguas que sobem nas épocas de chuva, voltam ao nivel normal no inicio de janeiro.

Quando dorme com o que sonha? Qual o sabor de suas làgrimas?
Através da saliva sinto o gosto de sua dor:

Não é amarga


Flornoasafalto

quinta-feira, 24 de maio de 2007

A Genialidade da Multidão

Há bastante deslealdade, ódio,
violência,
Absurdo no ser humano
comum
Para suprir qualquer exército em qualquer
dia.
E O Melhor No Assassinato São Aqueles
Que Pregam Contra Ele.
E O Melhor No Ódio São Aqueles
Que Pregam AMOR
E O MELHOR NA GUERRA
--FINALMENTE--SÃO AQUELES QUE
PREGAM
PAZ


Aqueles Que Pregam DEUS
PRECISAM de Deus
Aqueles Que Pregam PAZ
Não têm paz.
AQUELES QUE PREGAM AMOR
NÃO TÊM AMOR
CUIDADO COM OS PREGADORES
Cuidados com os Sabedores.
Cuidado
Com Aqueles Que
Estão SEMPRE
LENDO
LIVROS

Cuidado Com Aqueles Que Detestam
Pobreza Ou Que São Orgulhosos Dela

CUIDADO Com Aqueles Que Elogiam Fácil
Porque Eles Precisam De ELOGIOS De Volta

CUIDADO Com Aqueles Que Censuram Fácil:
Eles Têm Medo Daquilo Que
Não Conhecem

Cuidado Com Aqueles Que Procuram Constantes
Multidões; Eles Não São Nada
Sozinhos

Cuidado
Com O Homem Comum
Com A Mulher Comum
CUIDADO Com O Amor Deles

O Amor Deles É Comum, Procura
O Comum
Mas Há Genialidade Em Seu Ódio
Há Bastante Genialidade Em Seu
Ódio Para Matar Você, Para Matar
Qualquer Um.

Sem Esperar Solidão
Sem Entender Solidão
Eles Tentarão Destruir
Qualquer Coisa
Que Seja Diferente
Deles Mesmos

Incapazes
De Criar Arte
Eles Não Irão
Compreender Arte

Eles Vão Considerar Sua Falha
Como Criadores
Apenas Como Uma Falha
Do Mundo

Incapazes De Amar Completamente
Eles Vão ACREDITAR Que Seu Amor É
Incompleto
E ELES VÃO ODIAR
VOCÊ

E Seu Ódio Será Perfeito
Como Um Diamante Brilhante
Como Uma Faca
Como Uma Montanha
COMO UM TIGRE
COMO Cicuta

Sua Mais Fina
ARTE

"The Genious of the Crowd", Charles Bukowski

domingo, 20 de maio de 2007

Águas de Março (?)

Morro em Março, sem dores e sem culpa,
Como quem tem sede pela vida.
Despedaço-me cíclica e lentamente
Me atiro a barrancos
Ateio fogo às minhas pobres certezas
Enveneno meus amores
Rou minhas unhas e
arranco delicadamente os fios de cabelo
para que Abril faça renascer tudo outra vez.

Quando essa velha angústia me abate
Não derramo uma única lágrima
Não me escapa um oitavo de sorriso.
Me desconheço
Me esvazio
Me como
Me vomito
Me despindo por dentro
Fugindo de qualquer pesadelo esquecido.
Decifrando os segredos truncados
calados e tranquilos
morro mais de uma vez.

terça-feira, 15 de maio de 2007

A Insustentável Leveza do Ser


Minha menina, o dia está tão claro e lúcido. Os varais coloridos no quintal e o cheiro da manhã me lembram algo que não vivi. Você fica belamente ingênua com esse vestido florido, você é linda de qualquer jeito. Deixe-me cantar uma canção. Sabia que a música é feita de silêncio?

Andei pensando em filhos. Que tal 12? A gente se esforça para que saiam 6 meninos e 6 meninas, para que no São João façamos quadrilha ao redor de uma imensa fogueira. Porque ri?? Acha que apenas as mulheres querem ter filhos? Venha cà. Vamos tomar banho? Estou com vontade de beijar todos os dedinhos de seu pé. Nunca aprendi a andar a cavalo. O que lhe aflige se estou aqui? Podemos dançar tango até o amanhecer.

Minha querida, o tempo passa tão depressa...logo irá a levar tônus do seu corpo jovem mas jamais o brilhante de seus olhos. O que eu não faço por você? O que você quer que eu faça? Pode rir, eu digo e você não acredita. Pode rir porque amo seu sorriso.

Oh, minha vida! Espalhe flores pela casa. Solte seus cabelos. Tire sua roupa para mim e me encare com seus seios sérios. Deixe a porta aberta, meu bem, para que a revoada de pássaros possa voar entre os espaços sem fim.

*A Insustentàvel Leveza do Ser (The Unbearable Lightness of Being) é um livro publicado em 1984 por Milan Kundera, foi adaptado ao cinema pelo diretor Philip kaufman.




domingo, 13 de maio de 2007

Luftmenschen*


Invoque seus temores e lhes cante mùsicas de dormir, para que se percam nos sonhos de outrem.
Convide a sua angùstia para caminhar na beira da praia.
Beije sua fraqueza, entrelaçando lascivamente a sua lingua na dela.
Toque a valsa vienense para seus rancores empedrados.
Visite, e leve flores, para sua intolerância que definha num asilo.
Tome um café com seu fracasso.
Faça um strip-tease mais que obsceno para seu complexo de decência.
Escancare as portas e janelas da casa da mesquinhez.
Compre um algodão doce para sua covardia.
Acene docemente para a morte.
E quando o vento sopra, engravidando as virginais cortinas brancas, os olhos deles brilham num sorriso quase diabòlico.
Deslizam pelo chão de azulejos frios
E o agora acontece em suspenso com calafrios de eternidade:
Um deles compete com o vento.
* homens feitos de vento


A Dona dos 7 Sonhos

As coisas que não existem são mais bonitas." (Felisdônio)

Olhando o rosto de Luzia me lembrei da saudade que, meio sem sentir, sentia. Me lembrei de quanto tempo havia passado. Me lembrei de como, em absolutamente nada, eu havia mudado.

Ela, com aqueles mesmos olhinhos iluminados, capazes de desnortear insetos como eu, pareceu achar graça do meu transtorno e me serviu um café num ritual que me pareceu bastante nostàlgico: me contou do sabugueiro que andava muito deprimido a ponto de não lhe responder o "Bom dia!" que lhe dava a cada manhã; do casal de canàrios que havia se aninhado voluntariamente no quintal; da bicicleta que gostaria de comprar para passear na praia à noite. Talvez viajasse para Cuba, caso contràrio, derrubaria a casa para ter o prazer de construì-la outra vez.

Eu poderia passar dias, sem nem beber um gole de àgua, apenas escutando Luzia falar sobre as coisas mais desimportantes como se fossem sagradas. Cada movimento, cada gesto, era movido por uma paixão por "não sei o quê". Sua boca mastigava o princìpio da existência. A ùnica coisa que despontava em minha cabeça eram 7 sonhos que eu havia tido durante a noite, todos embaraçados e fragmentados em minha mente.

" O Tempo é o pai do esquecimento e o dono das lembranças.", ela me disse e eu, como de costume, nada entendi mas não me importei. È que as vezes ela falava umas coisas e eu não entendia se ela era a louca ou se eu era o burro. Mas de qualquer forma todo cético era frustrado pelas palavras que saìam da boca-de-fruta-madura de Luzia.
Estava tão perdido entre meus sonhos labirinticos que nem questionei como o sabugueiro me chamava de "idiooooota" enquanto bocejava esticando os galhos de flores miùdas.
- Como idiota??
-Idiota, simples assim. ELA é a dona dos 7 sonhos! E não me aborreça porque ela acorda e nem me dà mais "Bom dia!"!!

Estupefato, olhei para Luzia, quietinha, me espiando por cima da xìcara de esmalte branco. E então lembrei... tudo explodia dentro da minha cabeça, numa irradiação de cores e de calor. Ela habitava em mim, mesmo enquanto eu dormia, bagunçava e enfeitava meus sonhos. E tudo, mesmo quando evitava, me levava em direção à ela, e eu era sua vìtima feliz, seu prisioneiro onìrico. Sob o véu da noite eu a despia, beijava, lambia, num estado de nirvana e neblina. Entendi tudo sem nem concatenar nada. E tudo que eu pensava, queria e sonhava em dizer a ela naufragava no café, jà frio e amargo, entre meus dentes.

Flornoasfalto