terça-feira, 20 de dezembro de 2011



Tenho procurado as linhas do Tempo
para delinear os contornos da tarde
o balanço dos barcos
a quina das incertezas
a dobradura dos livros
os acentos das palavras.

Preciso de todas das cores que pintam o silêncio,
os sábados e os cheiros da terra
(quando chove, quando seca).
O presente é  generoso.

Preciso do dedal da minha avó
guardado numa lata preciosa
(lá no fundo da memória)
para bordar os desenhos
da fumaça do cachimbo da bisavó
onde vejo as lágrimas da minha mãe.

E uma agulha
que ilumine, afague,
transpasse a existência
e alinhe sentidos desenganados.
Que seja ponte, flecha e canção.

E no final ,
[se há final...]
uma enorme rede caleidoscópica
e delirante
que atiro de uma canoa vacilante sobre o mar
boca azul do destino
azulação do desatino
mareação de pensamento
no naufrágio da eternidade.

.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011



Roubaram minhas palavras
extraíram como dentes
apanharam como migalhas
minhas palavras mais dementes,
mais bem guardadas.


Levaram até o que esperei para ser dito
minhas palavras-retalhos
sem cor e sem forma
minhas palavras-quase
minhas palavras-quando.


Agora desdigo o quanto antes
e habito a língua do Tempo.


.