quarta-feira, 16 de novembro de 2011

É preciso esculpir a insônia bruta.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

(Aquilo que) Silencio

Para Matheus e Inácio.

Como dizer em um minuto
aquilo que levaria um ano?

Pré-palavra
Pós-tormento
o silêncio de uma vida inteira.

Guardo palavras amarrotadas sob a língua,
nas retinas, dentre os ossos,
à espreita do segundo-eternidade
(aquele que não amanhece).

domingo, 6 de novembro de 2011

Do desejo e outros diabos



Passei o dia recolhendo os estilhaços dos desejos espalhados pela casa.  
Na sala, cozinha, banheiro. Tinha um desejo inesperado chupando minha escova de dente. Outro a se roçar ao pé da mesa. Algum gemendo em algum canto ou perdido dentre minhas calcinhas. Num exercício de paciência recolhi todos eles, carinhosamente. De forma que, alguns eram fáceis de identificar como meus: roça-roça, assim-assim, shhh-shhh. Outros seus: lambe-lambe, quero-quero, tic-tic-tum. Mas tinham alguns tão dúbios, uns beijos e abraços, e salivas, e cheiros, e sussurros, uns desejos-palavras, desejos-deleites, desejos-futuros, umas agitações, que aí eu já não sabia. Nossos desejos desencontrados pela casa também já não sabiam o que fazer.
Confesso que pensei um jogar tudo fora, pôr num saco plástico preto numa alusão ao luto. Mas depois lembrei que quero uma vida sustentável. 
Alegria-sustentável, encanto-sustentável, humor-sustentável e desejo-sustentável.
O problema é que a técnica da sustentabilidade é dificílima devido à sua altíssima tecnologia (você, rapaz tão bem informado, já deve ter ouvido falar trata-se da invencionática ad infinitum). Felizmente fiz um curso EAD não-reconhecido pelo MEC porque a técnica tem como princípio fundamental a falta de rigor e a fragilidade das coisas.
O desejo também não pode ser submetido ao rigor científico (não posso abri-lo com um bisturi). Ele tem fama de alazão por algumas bandas, mas na verdade é criança, faz birra e beicinho e chora muito quando a gente lhe nega qualquer coisa.
De modo a pôr um fim nesse drama que não combinava com o azul da tarde fiquei montando estratégias: quem sabe colando os meus com os seus, ou quem sabe adestrá-los (os meus ou os seus?) e num surto cristão, quem sabe até castigá-los para que aprendam a se comportar?
Depois de ter bebido 5 litros de café e completamente paranóica em encontrar a solução, percebi o enorme silêncio. Não se ouvia mais gemido, zumbido, risada, palavrão. E não fiz mais nada, deixei os desejos adormecidos no espaço de nós dois.