domingo, 13 de maio de 2007

A Dona dos 7 Sonhos

As coisas que não existem são mais bonitas." (Felisdônio)

Olhando o rosto de Luzia me lembrei da saudade que, meio sem sentir, sentia. Me lembrei de quanto tempo havia passado. Me lembrei de como, em absolutamente nada, eu havia mudado.

Ela, com aqueles mesmos olhinhos iluminados, capazes de desnortear insetos como eu, pareceu achar graça do meu transtorno e me serviu um café num ritual que me pareceu bastante nostàlgico: me contou do sabugueiro que andava muito deprimido a ponto de não lhe responder o "Bom dia!" que lhe dava a cada manhã; do casal de canàrios que havia se aninhado voluntariamente no quintal; da bicicleta que gostaria de comprar para passear na praia à noite. Talvez viajasse para Cuba, caso contràrio, derrubaria a casa para ter o prazer de construì-la outra vez.

Eu poderia passar dias, sem nem beber um gole de àgua, apenas escutando Luzia falar sobre as coisas mais desimportantes como se fossem sagradas. Cada movimento, cada gesto, era movido por uma paixão por "não sei o quê". Sua boca mastigava o princìpio da existência. A ùnica coisa que despontava em minha cabeça eram 7 sonhos que eu havia tido durante a noite, todos embaraçados e fragmentados em minha mente.

" O Tempo é o pai do esquecimento e o dono das lembranças.", ela me disse e eu, como de costume, nada entendi mas não me importei. È que as vezes ela falava umas coisas e eu não entendia se ela era a louca ou se eu era o burro. Mas de qualquer forma todo cético era frustrado pelas palavras que saìam da boca-de-fruta-madura de Luzia.
Estava tão perdido entre meus sonhos labirinticos que nem questionei como o sabugueiro me chamava de "idiooooota" enquanto bocejava esticando os galhos de flores miùdas.
- Como idiota??
-Idiota, simples assim. ELA é a dona dos 7 sonhos! E não me aborreça porque ela acorda e nem me dà mais "Bom dia!"!!

Estupefato, olhei para Luzia, quietinha, me espiando por cima da xìcara de esmalte branco. E então lembrei... tudo explodia dentro da minha cabeça, numa irradiação de cores e de calor. Ela habitava em mim, mesmo enquanto eu dormia, bagunçava e enfeitava meus sonhos. E tudo, mesmo quando evitava, me levava em direção à ela, e eu era sua vìtima feliz, seu prisioneiro onìrico. Sob o véu da noite eu a despia, beijava, lambia, num estado de nirvana e neblina. Entendi tudo sem nem concatenar nada. E tudo que eu pensava, queria e sonhava em dizer a ela naufragava no café, jà frio e amargo, entre meus dentes.

Flornoasfalto

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