quarta-feira, 30 de junho de 2010

Crônica da Mulher Assassinada


"Tire o seu sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor..."
(A Flor e o Espinho de Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito e Alcides Caminha)

Era rosa, era flor.
Era princesa, deusa e rainha.
Era, Era, Era ô.
Amélia ô.
Virgem-maria-beatificada-coisificada-estuprada-mutilada.
Ave maria esvaziada de graça.
Ó senhora reguladora dos meus prazeres,
dos meus desejos.
Padroeira do meu desemprego,
da minha frustrante compulsão materna.
Amém.

Uma mulher tem de saber seu lugar.
Abre as pernas que eu meto:
Faca, tesoura, bala, punhal.
Tudo isso porque dizem que ela,
ela, mas ela é prima de Isabela.
Chega!
Nossa Senhora Coisificada,
cortarei os paus da trindade.
Sem pai, sem filho,
nem espírito pretensamente universal.
Montarei a minha vagina dentata
sem hipocrisia monoteísta:
Eva, Genir, Simone de Beauvoir,
Nginga, Pagu nos livrem de todo mal.
Salvem as meninas que gozam.
Salvem as putas de esquina.
Salvem as que não querem ser mães.
As marias-ninguém.
As infiéis.
As loucas.
As mães solteiras.
As lésbicas.

Não permitam que siliconizem minha alma.
Não permitam, minhas senhoras,
que silenciem as que gritam,
que matem as que não se subjugam.


2 comentários:

Lucas disse...

Um manifesto autêntico de quem se sensibilizou com a alma alheia, que é, ao mesmo tempo, a mesma. Essa sua crônica, Érica, como seus poemas, tem poder de engatar uma inquietação revolucionária.

RSOLIVEIRA disse...

ADOREI NOSSA SRA. COISIFICADA! O TEXTO É EXCELENTE, É UM MANIFESTO DA PÓS-MODERNIDADE! E VIVA AS MULHERES DE SANGUE NO OLHO E CABELOS NAS VENTAS!