
Nascer é esbarrar no mundo:
é assim que começa.
Trazia consigo gracioso desastre de nascença.
Tudo ia ao chão: jarros, chaves, varais, vassouras.
Ela apenas sorria e tudo, desengonçado, a perdoava.
Em dias de profunda distração topava nas pessoas,
que não conseguiam conter a perplexidade
ao virem surgir apòs a topada
confetes, pàssaros e botões
do espaço antes vazio.
Ela apenas sorria.
Ainda outro dia chocou-se com o florista,
o que causou a aparição de centenas de bolhas de sabão.
Outra vez num rapaz que estava a passear com o cachorro
e que saiu enlouquecido atràs das borboletas amarelas ainda zonzas.
Ela sorria
e o sorriso era o que havia de mais catastròfico no mundo.
Derrubava muralhas
Abria portas cerradas
Revoltava mares não-navegados.
Então as almas marmorizadas percebiam o desastre:
seus pedaços inutilizados
entupindo os bueiros em dias de chuva.