sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Giz de calçada


Costuro as ruas calmamente
mas procuro um método para assanhar os segundos.
Periquitos andam tronchos nas praças
me pergunto se não se cansam de tanta verdeza.
Sinto tanta saudade
você não suporta mais essa palavra.
Eu a respeito profundamente,
mesmo quando ela entra em estado de pano de chão.
Em estado de asma.
Em estado de lesma.

Meu mestre fazedor de pipas
me ensinou a arte de desgastar palavras.
Ele transformava gavetas em begônias.
Então agora sentada no tamburete da paciência
passo horas a fio a arear a saudade:
macadame, tomate seco, panela de barro,
olho de vidro, soluço, violoncelo,
cais, cumbuca, canto de grilo.
Até que ela se torne um vir a ser
e todas as possibilidades possam morar na lesma.
Até que a asma vire cigarra.

A decadência é para os sem-imaginação.
Eu quero é desenhar nas calçadas.

Um comentário:

Anônimo disse...

um ensaio de uma alegria a la Manoel de Barro e Argila... nas calçadas cansadas do sonho, calcadas,amortalhadas de uma natureza viva, alagada de despertezas.

Jober