quinta-feira, 21 de junho de 2007

Aprendiz de Feiticeiro


Era um velho muito velho que morava numa casa de palha
na beira da casa ele tinha velami mikiçangui, mikiçangui velami
no seu alanguê .

O tempo apagou as lembranças de minha cabeça.
Antes eu sabia das coisas que lembrava, mas agora tudo o que sei é o que não lembro.
Não lembro, por exemplo, de ter conhecido um homem de cabelos muito longos como os de uma santa, e que tinham a cor de um entardecer tranquilo. Os seus olhos contavam cinco anos e sorriam.
Trazia dependurado uma flauta, uma gaita, um pandeiro, castanholas, uma rabeca e uma caixinha de fósforos. Quando dormia cantava músicas em mandarim, vezinquando roncava poesia.
Não lembro de um poema ele roncou certa noite e acordou toda a vila do Cruzeiro:
Para enxergar as coisas sem feitio, é preciso não saber nada.
É preciso entrar em estado de árvore.
É preciso entrar em estado de palavra.
Só quem está em estado de palavra pode enxergar as coisas sem feitio.

Ele não tinha nome. Chamavam aprendiz de feiticeiro e ele chacoalhava sua caixinha de fósforos e fazia uma batucada que só terminava no outro dia.
Ele me ensinou a chegar no começo. O começo é o esquecimento e tudo o que não lembro, mas que ao mesmo tempo é tudo o que sei e que guardo de mais valioso. O nada é o barro do qual se modelam todas as coisas. O elefante e o gabiru.
Depois de alguns anos sua barba já alcançava os joelhos quando um pássaro verde com o peito estufadinho em azul resolveu se alojar e fazer um ninho. No início ele ficou muito sério, não dizia palavra, o passarinhotambém não cantava. Depois foi uma algazarra. Dentro de um mês ele tinha cinco ninhos emaranhados naquela barba imensa e eu acabei perdendo a conta diante da reprodução animada dos cantantes.
Como já disse só sei do que não me lembro. E isso é tão calmo e tranquilo que quase já não recordo exatamente o que escuto ou a textura do que penso. Mas é tão lindo seu moço: quando eu fecho os olhos vejo a cor das palavras.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Tédio com sal


Ò mestre da falta de mistério! “Ò” ao que eu não aguento. E o buraco continua sendo mais embaixo. Essa nudez desconciliada de qualquer propòsito e fundamento. Que mais? Para o bom entendedor um piscar de olhos basta. Ui.
Mas é que não funciona:

« me desamargue que no fim eu acerto que no fim eu reverto
que no fim eu conserto
e para o fim me reservo
e se verá que estou certo
e se verá que tem jeitoE se verá que está feito
que pelo torto fiz direito
que quem faz cesto faz cento
se não guio não lamento
pois o mestre que me ensinou já não dá ensinamento »*

E o que funciona maquinalmente não tem alma, jà dizia minha avò: a pressa é inimiga da perfeição do imperfeito! Ela ouviu isso de um peixe eremita que viveu por uns tempos no rio São Francisco. Estranhamente ele era muito “ar”, sabe? Queria ter nascido gente pra morar no rio de oxigênio. Talvez seja por isso que os peixes se arremecem para fora dos aquàrios, e as pessoas se arremecem às prisões, de ferro, de dor, de desejo. Não importa do quê, é prisão de qualquer forma.

Tudo o que sei é que não entendo e isso em nada me aflige, e pois, se te afeta, seja afetado sozinho.



* Trecho de Circuladô de fulô (Caetano Veloso/ Haroldo de Campos)
Flornoasfalto

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Desterritorialização semestral


Fim de semestre é muito complicado... seis disciplinas desabando em minha cabeça: a palatalização das consoantes intervocálicas está me matando, o potencial funcional das palavras me desafia a troco de nada, o pirotécnico Zacarias está assistindo a um espetáculo de fogos com Murilo Rubião. O que Mário de Andrade entende de amor para achá-lo intransitivo, gente?
Minha cabeça está mais parecendo um triste satélite artificial a girar sem sentir. As coisas me cutucam para perguntar as horas...e Túlio ainda não me emprestou "Alice no país das maravilhas" mas me deu "O labirinto do fauno". Carlito Vieira Dias está salvando minhas noite da agonia acadêmica. Dois ensaios e um romance: várias conclusões e nada escrito.
Não estranhem minha cabeça vista por esse ângulo. No final eu sempre sobrevivo, afinal dançar um bom forró é o segredo do aquilibrio! ( Freud sabia disso?)
Vou pintar os dedinhos dos pés!

terça-feira, 5 de junho de 2007

Baba Alapalá


Avô é Filósofo, é Santo, Duende, Profeta.
Curandeiro, Pajé, Raiz, Raio de Tupã.
Avô é Orixá.